Treino aberto para 8.000 africanos lembra preparação para a Copa 2006
O dia em que a seleção brasileira teve seu primeiro contato real, e se emocionou com a África, lembrou a mais atrapalhada e festiva preparação do time para uma Copa do Mundo.
A calorosa recepção foi respondida pelos jogadores brasileiros, que foram perto do alambrado saudar os torcedores. Eles passaram o tempo todo pulando e cantando a Kuasa.
O campo utilizado pelo Brasil fica numa Township, área afastada das cidades para onde os negros eram levados pelo governo durante o regime de apartheid (1948 a 1990).
Rocklands é um lugar pobre, com ruas de terra batida, pequenas casas de madeira e com índice alto de criminalidade para os padrões da calma Bloemfontein, a "cidade das flores'' da África do Sul.
Desde as primeiras horas do dia, os moradores já circulavam pelo estádio. Quando a seleção chegou, uma multidão se aglomerava do lado de fora. E do lado de dentro também.
'Eu estou muito feliz que eles nos deram essa chance. É o céu para nós conhecer esses jogadores', dizia, sorridente, Leah Maeke, 47, empregada doméstica que levou o filho Rapelang, 9, para ver Kaká.
O agora jogador do Real Madrid e Ronaldinho eram os mais lembrados pelos frenéticos torcedores, que não entendiam o motivo de o craque gaúcho do Milan estar ausente da seleção.
Em meio à euforia dos torcedores, um senhor, Nox Nonkoryce, 57, que coordena uma fundação para ajudar desabrigados e desempregados da comunidade local, via a presença dos brasileiros como esperança para dias melhores por ali.
"Quem sabe esse time famoso não chame, de alguma forma, a atenção do mundo para os grandes problemas da África'', dizia ele, que, ao ser questionado sobre o motivo de as pessoas demonstrarem tanta felicidade mesmo vivendo em condições precárias, respondeu: "Nós somos felizes porque acreditamos sempre que tudo vai melhorar um dia''.
Amanhã, a seleção deve treinar novamente no campo de Rocklands, mas sem a presença dos moradores do local.
O fantasma de Weggis ainda assombra a CBF. Após o evento de hoje, funcionários da confederação diziam que tinham visto a "Weggis africana''.
O certo é que a partir de amanhã o time de Dunga não fará mais nenhum treinamento aberto ao público. Os africanos terão de pagar o preço da 'farra'' suíça. 'Eu fiz tudo para conseguir o convite porque sei que para mim é uma chance única de ver o Brasil. Não tenho dinheiro para ir aos jogos, e eles não voltarão aqui nunca mais'', falava, emocionado, o estudante Daniel Mthombeki, 19.