Navios de cruzeiros para a Copa 2014
Jorge Hori, blogueiro do Portal, comenta a viabilidade dos cruzeiros marítimos durante a Copa
Com a grande oferta de cruzeiros marítimos no Brasil a partir do final do ano, que já recheia as páginas dos jornais e das revistas, parece que o país já entrou definitivamente no circuito internacional dos cruzeiros marítimos.
O que nos leva a imaginar que poderia ser uma solução para a carência de hospedagem em algumas das cidades escolhidas como sede dos jogos da Copa 2014. O ministro do Turismo tem essa impressão.
Há que fazer, no entanto, a diferençiação entre a presença de navios estrangeiros de turismo no Brasil e a presença de turistas estrangeiros em cruzeiros no Brasil.
Segundo a Abremar (Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas), na temporada 2007-2008 estiveram no Brasil 14 navios regulares, nos meses de outubro a abril, com 738 escalas no país (em apenas 18 portos), transportando 396.119 passageiros, dos quais 48.969 estrangeiros, ou pouco mais de 10%.
Segundo a mesma fonte, na temporada 2008-2009 esses números teriam subido para 445 mil turistas nacionais e 75 mil passageiros internacionais.
Na realidade, o que ocorre é o deslocamento dos navios de cruzeiros do Mediterrâneo e da Europa, na maioria dos casos, no período de novembro a abril – quando lá é outono e inverno – para maior aproveitamento das embarcações.
São destinados à costa brasileira, para cruzeiros domésticos, atendendo – predominantemente – aos turistas brasileiros.
Segundo a Abremar, 13,2 milhões de passageiros viajaram em cruzeiros em todo o mundo em 2008. O Brasil teve cerca de 500 mil viajantes, representando uma fatia de 4% do total.
O principal mercado emissor do turismo marítimo são os EUA, da Costa Leste, com destino ao Caribe.
O percentual maior dos cruzeiros é das viagens entre 3 a 4 dias, seguida das viagens de 7 a 8 dias. Nas primeiras, abrange “feriadões” como o dos paulistas no final de semana do 9 de julho (altamente prejudicado pelas chuvas), e, na segunda, uma semana completa. Viagens com duração maior, para envolver férias mais amplas, têm frequência menor, até porque se tornam muito onerosas.
O Nordeste brasileiro poderia ser uma extensão para os cruzeiros marítimos dos norte-americanos, mas dificilmente além do Recife. Salvador já estaria fora do circuito regular, exceto pela demanda do carnaval. Nesse caso, poderia, excepcionalmente, receber turistas estrangeiros num circuito envolvendo dois a três dias em Salvador.
O período da permanência dos navios de cruzeiros marítimos no Brasil começa em novembro e termina em abril, com alguma antecipação ou postergação. No período de junho e julho, quando ocorre a Copa do Mundo, os navios deverão estar no hemisfério norte.
No entanto, as entidades do “trade turístico” acreditam na possibilidade de ter os navios no período da Copa, como consta do documento da Câmara Brasileira de Turismo da CNC, juntamente com as entidades da cadeia produtiva.
Entrei em contato com duas dessas entidades para obter informações sobre o assunto. Abaixo, reproduzo trechos das respostas que me enviaram.
ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis)
Fretamento de navios de cruzeiros para, durante a Copa do Mundo de 2014, estabelecermos uma rota pela costa brasileira, levando o público para assistir aos jogos e servindo, ainda, como meio de hospedagem. Vale notar que, em julho, esses navios estão mais disponíveis, devido aos furacões no Caribe.
Abremar
As empresas marítimas representadas por nossas associadas estão motivadas a programar cruzeiros internacionais com destino ao Brasil durante o evento (Copa do Mundo de 2014), desde que removidos os obstáculos a seguir descritos.
Os navios poderão fazer escalas em diversos portos nacionais, assegurando geração de renda e empregos locais, e possibilitando a assistência de jogos nas cidades costeiras ou distantes até uma hora de vôo delas.
Todavia, esse enorme potencial está, no momento, inviabilizado pelo anacronismo normativo brasileiro, que tem inibido a vinda de cruzeiros marítimos internacionais para o País, a começar por seu conceito equivocado e divergente.
Na omissão legal sobre o que seja cruzeiro de cabotagem, caberia, por analogia, adotar a lei aplicável a voo internacional e doméstico, aquele iniciado ou terminado em país estrangeiro, esse iniciado e terminado em território nacional.
Os principais obstáculos que existem para o incremento desse importante modal de transporte são:
- A exigência de visto de trabalho temporário, tipo V, para tripulantes que não possuam Carteira de Marinheiro;
- O descumprimento de norma internacional, subscrita pelo Brasil, que dá preferência á atracação de navios de passageiros, impondo-lhes o custo da retirada de navios de carga e de sua permanência ao largo;
- A inexistência de controle de reservas de visitas e atracações, o que obriga os navios a fundearem em locais que comportam um reduzido número de embarcações ou, até, os proíbe de atracar.
Diante dessas considerações, permanecem as dúvidas sobre a viabilidade real de uso dos navios de cruzeiros marítimos para movimentar os turistas durante a Copa 2014, levando em conta a disponibilidade dos navios e os locais dos jogos.
Em função da tabela dos jogos, o navio poderá fundear num porto, com os torcedores para o primeiro jogo. Mas depois terão que se locomover por via aérea ou rodoviária, para os demais jogos, retornando ao porto de origem.
As seleções não fazem todos os seus jogos numa única cidade, conforme já foi mostrado em artigo anterior referente à logística aérea.
Jorge Hori é consultor do SINAENCO – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva e responsável pelo blog Inteligência Estratégica – Jorge Hori (http://iejorgehori.blog.uol.com.br)
Fonte: Portal Copa 2014