sexta-feira, 3 de julho de 2009

Energia solar pode não ser viável em estádios brasileiros

Arquitetos avaliam que o custo/kWh não compensa o investimento


Não é pela falta de sol, recurso que o Brasil tem de sobra. O maior obstáculo para a implantação de coberturas geradoras de energia nos estádios da Copa do Mundo de 2014 envolve o custo de instalação e manutenção dos painéis fotovoltaicos, ainda caros para os padrões brasileiros de investimento. O país conta com uma grande capacidade instalada de usinas hidrelétricas, também energia limpa, explica o engenheiro arquiteto Ralf Amman, da empresa alemã GMP. "Ainda estamos estudando o assunto para verificar a viabilidade, mas considerando o custo relativamente baixo da energia no Brasil, será bem difícil convencer os investidores sobre essa alternativa", disse Amman.

Se na ponta do lápis a conta não fecha a favor dos fotovoltaicos, é muito provável que a tecnologia seja aplicada como fator de educação ambiental, acreditam os especialistas, já que a Copa do Mundo será o centro das atenções mundiais em 2014. O primeiro passo para transformar a Copa em símbolo de sustentabilidade ambiental já foi dado. Um projeto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com o Instituto Ideal prevê a transformação dos estádios da Copa em geradores de energia solar. Além de criar arenas autossustentáveis, a energia gerada poderia ser revendida ao sistema elétrico em boa parte dos casos (veja o infográfico).

Apesar de sintonizada com as principais exigências da sociedade, a ideia pode encontrar alguns entraves para sua aplicação. Batizado de Estádios Solares, o projeto tem como grande desafio atrair investidores privados ou públicos, já que seu custo de implantação e manutenção supera o da energia convencional.

O pesquisador Ricardo Rüther, doutor do Laboratório de Energia Solar (LABSolar) da UFSC, é um dos entusiastas do projeto. Ele destaca o potencial solar do Brasil – superior em 40% ao da Alemanha, onde foi disputada a Copa 2006 – e acredita que o Mundial brasileiro deve ser aproveitado para promover formas limpas de geração de energia.



Custos caem 5% ao ano
“Sem dúvida é mais barato comprar energia do sistema convencional, mas devemos tomar a Copa do Mundo como vitrine. Imagine a visibilidade que um projeto desses traria ao Brasil”, afirma Rüther. Para o pesquisador, as autoridades brasileiras têm que adotar o projeto como “política de Estado”. Quanto aos custos, afirma que estão caindo 5% ao ano, o que tornaria o sistema viável logo após a Copa 2014.

Um exemplo de implantação bem sucedida do sistema é o Stade de Suisse Wankdorf, em Berna, capital da Suíça. Com 10.738 células solares, o estádio gera 1,134 GWh (gigawatts-hora) de energia por ano, segundo o LABSolar.

No Brasil, estudos preliminares desenvolvidos pelo LABSolar em parceria com o Instituto Ideal para quatro estádios da Copa 2014 (Maracanã, Beira-Rio, Mineirão e Fonte Nova) mostram que o investimento necessário para a instalação das placas em cada uma das estruturas varia de R$ 18 milhões a R$ 42 milhões. A energia gerada e não aproveitada pelos estádios poderia ser revendida ao sistema de distribuição, diz o pesquisador.

Mas, este não é o caso do Maracanã, por exemplo, o estádio mais cotado para receber a final da Copa 2014. O estudo do LABSolar projeta a instalação de placas fotovoltaicas numa superfície de 23 mil metros quadrados na cobertura do estádio. Empregando a tecnologia mais avançada, a de placas de silício policristalino, o Maracanã seria capaz de gerar 72% da energia que consome. Ao custo de 43 milhões de reais, o maior estádio do Brasil produziria 4.806 MWh por ano, enquanto seu consumo foi de 6.651 MWh, em 2007, e tende a crescer com a realização da Copa.



Financiamento
Além do custo das placas e da instalação, o sistema gera custos administrativos de cerca de 1% do valor da implantação ao ano. O payback (tempo necessário para o retorno do investimento) é de 30 anos, próximo da média de outras formas de geração de energia. Rüther concorda que este não é um modelo economicamente competitivo, o que acaba afastando investidores privados. Para o pesquisador, a solução mais viável é que as próprias companhias de energia implantem e administrem o sistema através de financiamentos subsidiados.

“A linha de financiamento é a grande dificuldade no Brasil. O modelo que pretendemos apresentar é o de empresas de energia que banquem a implantação do sistema com juros subsidiados. Assim, os investidores dos estádios não teriam que arcar com os custos de implantação”, afirma Rüther.

E já há investidores interessados. O banco de fomento alemão KFW e a GTZ, agência germânica de desenvolvimento, estão no Brasil para discutir a viabilidade técnica e econômica do projeto. Na segunda-feira (22/6) reuniram-se com representantes do governo mineiro e técnicos da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para discutir a viabilidade do projeto no complexo Mineirão-Mineirinho. Nos dias 24 e 25 fazem reunião com a Eletrobrás, em Santa Catarina. Se conseguirem viabilizar os acordos, a Copa 2014 será a primeira com estádios alimentados com energia limpa.



Fonte: Portal da Copa 2014

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