Fora das grandes metrópoles brasileiras, que têm grande potencial de público para os jogos de futebol, as demais cidades estão enfrentando dificuldades para conseguir convencer os parceiros a investir nos estádios. E os dados dos Campeonatos Brasileiros, tanto na série A, como na série B, mostram que não há garantia para a viabilidade dessas arenas.
A esperança de repetir as trajetórias do Barueri, já na série A e em boa colocação, ou do Atlético Goianense, na liderança da série B, pode até se concretizar com clubes-empresas, mas os seus resultados econômicos ainda são medíocres, com pouco retorno dos investimentos, pelo menos a médio prazo.
Na primeira fase, antes da escolha das cidades-sede, a ideia era de que tratava de um concurso entre estádios. Cada qual buscou mostrar projetos suntuosos e caros, sob o pretexto da Copa Verde. E que estavam atendendo a todos os requisitos do Manual da Fifa. Ninguém fez ou quis fazer os estudos de viabilidade, pois corria o risco de evidenciar a inviabilidade e, com isso, ser eliminada da seleção das doze cidades.
Agora há o prazo - até o final deste mês - para apresentar não só o projeto básico do estádio, como o estudo de viabilidade econômica, considerando, principalmente, os resultados com o público dos jogos de futebol.
Quem se aprofundar um pouco na avaliação de receitas com shows musicais, grande esperança para a ideia de uma arena multiuso, verá que se trata de uma ilusão, que pode levar a frustrações.
Manaus e Cuiabá, por exemplo, são cidades que não têm representantes nem na série B. Fortaleza, Natal e Brasília têm clubes na série B. As outras sete têm um ou mais representantes na série A.
Uma contra-argumentação é que pode-se desenvolver um clube, em curto prazo. Exemplos são os casos do Atlético Goianense, com uma subida meteórica, ocupando agora a liderança da série B, mesmo tendo chegado a ela apenas neste ano. E que no último jogo derrotou como visitante o então líder Guarani. Em 2010 o Atlético Goianense poderá estar disputando a série A, e chegar em 2011 na Libertadores. Joga no Serra Dourada, assim como o Goiás e o Vila Nova.
Outro exemplo é o Barueri, já na série A e na disputa pelos quatro primeiros lugares. Ocorre que ambos, mesmo com essa brilhante trajetória, não conseguem levar grandes públicos aos seus jogos. Depois de 16 rodadas (não computando a do último final de semana) o Barueri está na rabeira das estatísticas do Campeonato, tanto em público, como em arrecadação. Com média de 3.165 pagantes por jogo e arrecadação média de R$ 56.459,39, só conseguiu levar à Arena Barueri um total de 22.152 pessoas, com ingresso médio de R$ 17,84.
Jogando contra os principais times de São Paulo, o Barueri atraiu 4.960 pagantes contra o Palmeiras (ingresso médio de R$ 23,86) e 6.754 contra o São Paulo (ingresso médio de R$ 24,03). Provavelmente, com torcida do adversário maior que a da casa. A estratégia tem sido a de adotar ingressos mais caros, mas que resultam em menor público.
O Atlético Mineiro, até há pouco na liderança, ora perdida para o Palmeiras, ostenta média de 41.642 pagantes por jogo (a maior até agora) com arrecadação média de R$ 589.744,43. O Galo enche o Mineirão com preços populares, ficando o seu ingresso médio em R$ 14,16.
Só um jogo do Corinthians no Pacaembu, contra o Fluminense, teve 27.329 pagantes, com renda de R$ 951.184,00 e ingresso médio de R$ 34,80. Pouco superior à sua média, considerando oito jogos, de R$ 31,99.
O Corinthians com a sua "birra" com o São Paulo, só para não dar o gosto de jogar no Morumbi e pagar o aluguel, levou a partida contra o Palmeiras para Presidente Prudente (sem pagamento de aluguel). Conseguiu um público (29.777) pouco acima do jogo contra o Fluminense, no Pacaembu, uma arrecadação de R$ 867.035,00 – portanto menor que a daquele – e ingresso médio de R$ 29,12. De uma carga total de quase 40 mil lugares, 25% ficaram vazios. Pior, perdeu por 3x0.
Santo André e Avaí
Santo André poderia ser outro exemplo de clube empresariado, em ascensão. Mas os seus resultados econômicos ainda são pífios. A sua média de público no Estádio Bruno José Daniel é de 3.165, em sete jogos, com arrecadação média de R$ 137.624,00 e ingresso médio de R$ 25,09.
O Avaí, agora renovado, tem feito uma boa campanha – apesar de um inicio ruim – mas os seus resultados econômicos continuam medíocres. Em sete jogos no Ressacada conseguiu levar 69.126 pagantes, o que é melhor que os novatos paulistas, além de ter um estádio próprio. Mas o seu total de arrecadação de R$ 577.785,00 é menor que a média do que o Atlético Mineiro consegue faturar no Mineirão, por jogo. Tem um público maior porque trabalha com uma estratégia de preços mais populares. O seu ingresso médio é de R$ 8,36.
Comparando os resultados do Avaí com os do Santo André, que conseguiram até agora rendas muito próximas - R$ 577.785,00 para o primeiro e R$ 536.702,00 para o segundo, ambos em sete jogos - o Avaí tem quase três vezes o número de pagantes, com um ingresso médio bem menor: R$ 8,36 para o Ressacada e R$ 20,12 no Bruno José Daniel. As estratégias são diferentes, os resultados globais, praticamente iguais.
Vila Nova e Atlético Goianense
O Atlético Goianense, agora na ponta da série B, depois de 14 rodadas, não tem mostrado a força econômica igual à futebolística. Em sete jogos, como mandante, no Serra Dourada, só conseguiu levar 18.843 espectadores pagantes, com média de 2.692 por jogo. Sua arrecadação total foi de R$ 37.997,86, com ingresso médio de R$ 14,12. Desempenho econômico bem pior que seu colega Vila Nova, que apesar de estar apenas na 16ª colocação, quase na zona da degola, tem um público total de 46.050, também em 7 jogos, arrecadação total de R$ 103.415,71 e ingresso médio de R$ 15,72.
Vasco, uma atração
A presença de um “time grande” como o Vasco, na série B, atrai público em todas as cidades. Os principais públicos e renda ocorrem quando o time da casa joga contra o Vasco.
O jogo Bahia 2x1 Vasco, no Pituaçu, levou 25.376 pagantes a um ingresso médio (R$ 23,24) muito superior à média do campeonato, gerando uma renda de R$ 589.675,00. Em Fortaleza, o Vasco igualmente conseguiu levar um bom público (27.629), além de derrotar o Ceará por 2x0. Do ponto de vista do estádio é um resultado bem pior em função da capacidade (45.075) e do ingresso médio, no caso, de R$ 17,56. De toda forma, superior à média dos jogos no Castelão (R$ 14,68). A taxa de ocupação do Pituaçu no jogo contra o Vasco foi de 92% enquanto no Castelão, contra o mesmo Vasco, foi de 61%.
Bahia e Vitória
Ainda que com um desempenho medíocre no campeonato, longe do G4, o Bahia mostra que há um público baiano capaz de pagar mais caro para acompanhar os jogos do seu time, em casa. O ingresso médio dos oito jogos no Pituaçu, para os 11.579 espectadores por jogo, foi de R$ 21,33. Está acima do ingresso médio obtido pelo Vitória, na série A, de R$ 18,99. A sua média de público no Barradão (12.150), no entanto, é maior que o do Bahia.
Para o jogo contra o São Paulo, ontem (domingo), o Vitória aumentou os preços dos ingressos. Não conseguiu lotar o Barradão, ficando com um público pagante de 17.519, bem abaixo do conseguido pelo Bahia, no jogo contra o Vasco. Mas a um ingresso médio de R$ 28,54 alcançou R$ 500.040,00. Provavelmente os R$ 23,00 de ingresso médio sejam o limite para um bom público em Salvador.
Fonte: Portal da Copa 2014